Quem de nós não vivenciou aquele estilo de aprendizado que tinha como diretriz o ato de decorar o conteúdo que está sendo visto em sala de aula para uma avaliação posterior? Estudar dias a fio para responder a questionários para verificar se o que foi ensinado pelo professor foi aprendido e ser avaliado por uma nota pode não ser o melhor caminho para a construção do conhecimento. Na realidade, a maioria das escolas ainda segue este modelo de ensino, enquanto esta é uma das grandes diferenças do método Montessori, que motiva o aluno a mostrar que aprendeu.
Quando a aula é majoritariamente expositiva, exercita a memória. Assim como quando o aluno é conduzido para a reprodução exata de fórmulas prontas e ativa a memorização de ordem superficial sem um significado relacionado. A avaliação neste contexto verifica o que foi memorizado apenas e não pode ser reconhecido como aprendizagem. Vale lembrar que a memória e a capacidade de reproduzir são apenas duas habilidades em um vasto universo chamado aprendizado.
E mais: como uma metodologia de ensino baseada em notas para avaliar o desempenho de um aluno pode servir de subsídio para construir um aprendizado que faça realmente a diferença no desenvolvimento? Essa e outras perguntas nos levam a refletir: como temos nos dedicado ao ensino das nossas crianças, à construção da autonomia na escolha de tarefas nas atividades cotidianas e ainda como contribuir para que os aprendizados não sejam isolados e sim cooperem entre si para o desenvolvimento do ser humano integral que está em formação na primeira infância?
Dos aprendizados individuais, em grupo e com o mundo que cerca a criança
Para entender melhor esse lugar de aprendizado é importante entender que a proposta de aprendizagem Montessori se dedica a três eixos principais: o cuidado de si, com o outro e com o ambiente. A partir desta concepção, o papel do educador é apontar algum caminho do mesmo modo que faria um guia que já caminhou por uma estrada que para o outro é ainda desconhecida, ou seja, o educar dá lugar ao relacionar. Afinal, todos que estão na escola trocam a partir de quem são e de quem desejam ser. Assim aprendemos juntos e sempre se conquista espaço no relacionamento entre essas áreas. Embora, existam e coexistam naturalmente, recomenda-se o acompanhamento respeitoso para que a criança conquiste o seu próprio espaço de aprendizagem.
O reconhecimento de si mesmo
O olhar para si é o primeiro passo para viver com o outro. É no reconhecimento das próprias necessidades, físicas e emocionais, que reside a construção da personalidade que vai influenciar nas redes de relacionamento que fazem parte de nossas vidas. Na infância, as nuances pessoais vão sendo despertas pelas experiências do convívio consigo e com aqueles que estão ao redor. Para auxiliar neste reconhecimento, os educadores atuam para motivar o carinho da criança consigo mesma, incentivando ao exercício autocrítico e a identificar as próprias necessidades por iniciativa própria.
A percepção do outro
Já o olhar para o outro está relacionado com a percepção de que aquele é um ser único, original, com uma história de vida e sentimentos próprios, o que não acontece automaticamente. Assim, enxergar o próximo exige envolvimento, interesse e iniciativa que ocorrem no momento certo. O despertar desta necessidade pode ser motivado por um educador amoroso e dedicado, mas é preciso que haja respeito e paciência para perceber e respeitar o ritmo de cada criança. É uma construção em plena renovação!
O ambiente em que estou
Quando a criança entende a importância de cuidar de si mesma, de se relacionar com o outro, é preciso reconhecer o ambiente ao redor e a importância de cuidar bem do espaço em que está. Daí a importância de mostrar desde cedo sobre o cuidado com objetos, natureza e com tudo o que o cerca. Essa consciência também contribui para o despertar da autonomia porque a organização e limpeza do ambiente fazem parte do cuidar, que pode tornar as relações e os espaços mais agradáveis e acolhedores para a convivência.
Ao unir esses três eixos, o educador tem na criança um aliado que vai estar motivado a construir o ensino baseado nos cuidados em si mesmo, com os colegas e também comprometido com o bem-estar no ambiente de convivência.
Criando pontes ao invés de obstáculos
Na aprendizagem Montessori, o ambiente e educadores são preparados para atuar como facilitadores com o objetivo de permitir que as crianças se desenvolvam com liberdade por meio de um acompanhamento sutil.
Inspirada no entendimento de que o educador não é o detentor do conhecimento e tampouco que a criança é um ser passivo que deve receber o ensinamento, a Cataventura se dedica à compreensão de que a criança é um ser que tem capacidade de aprender por conta própria, explorando, observando, pensando, experimentando, sentindo o ambiente em uma perspectiva única. Essa habilidade para aprender a torna capaz de construir conhecimento, descobrir o mundo de uma maneira espontânea e autônoma. Para que esse processo ocorra é preciso que o adulto esteja preparado para viajar nesta experiência com o pequeno.
Como cooperar para uma experiência bacana
Vale lembrar que o adulto que viveu uma educação formal traz experiências vividas fundamentadas em preconceitos, em concepções culturais, nas próprias necessidades do adulto ou nos próprios desejos e expectativas de quem ele quer ser. Esse facilitador educador, seja pai e mãe, seja professor deve ter o entendimento de que a criança é capaz e que adquire conhecimento por conta própria sem apoio nenhum com uma perspectiva e conhecimentos diferentes e tão bons quanto os dos adultos. Desta forma, o que ele tem a oferecer pode não necessariamente ser o que a criança precisa ou ainda a projeção de um desejo pessoal do adulto que é transferido a ela.
Enxergar pelas lentes da criança é possível?
Para que a cooperação ocorra, é preciso que o adulto enxergue a criança livre de preconceitos e projeções. Daí a importância de entender o espaço sensível da criança, que envolve o que a criança quer saber, o que está fazendo sentido para ela ao ofertar um ambiente organizado, esteticamente agradável para que se realize por conta própria. Afinal, a condução ideal dentro da aprendizagem Montessori se refere a oferecer apoio, não fazer por ela e sim, ajudar a fazer o que for necessário.
Cabe, portanto, ao adulto reconhecer o valor da criança permeada pela sua autenticidade e originalidade: ela tem sempre algo a contribuir porque também ensina. Para que essa troca ocorra, o adulto deve estar disposto a aprender com a criança, ser humilde para se colocar neste lugar, controlar os próprios impulsos para não interferir ou privar a criança de se desenvolver, criando um ambiente adequado, organizado e seguro para que ela sinta que aquele ambiente a inclui.
Aprendizagem Montessori na prática
Na escola, quando o educador cria o novo desafio, a apresentação ocorre com movimentos sutis, em silêncio, demonstrando como se usa e colocando o material à disposição para a experimentação. O adulto somente vai intervir, de modo respeitoso, se a criança estiver usando o recurso de uma maneira não adequada, conduzindo para o acerto ao invés de julgar o erro.
Vencendo os limites da relação educador e aprendiz
Ao se reconhecer como um ser atuante e com iniciativa própria, a criança não deve identificar os papéis de educador e aprendiz, mas sim o relacionamento de dois sujeitos, aprendendo um com o outro e cada um contribuindo em seu grau de maturidade. É o adulto e a criança respeitando a troca de aprendizados, de sensibilidade e de experiências, por isso Montessori diz que o adulto ensina com quem ele é e não com o que ele diz por ser exemplo pelas suas ações.
Agora que você já conhece um pouco mais sobre a metodologia montessoriana, aproveite este momento para saber mais sobre a Cataventura aqui.