As primeiras cartas surgiram há 3 mil anos antes de Cristo, escritas em papiro, e
serviam para enviar mensagens, muitas delas percorriam longas distâncias até chegar
ao destino para que fossem entregues. Muitas percorreram seus caminhos a cavalo ou
levadas pelos emblemáticos pombos-correio, capazes de percorrer mais de 100 Km e
retornar ao local de origem.
Carta, missiva (latim), ou ainda epístola (grego), é o termo que descreve um
manuscrito ou um impresso destinado a estabelecer uma comunicação interpessoal
escrita, entre pessoas e/ou organizações, de cunho particular. Hoje, em uma sociedade
muito mais modernizada, o processo se tornou quase inexistente, mas aqui na
Cataventura propomos um resgate por meio das cartas para vizinhança. Continue
lendo para conhecer!
A carta como ferramenta de diálogo
A comunicação é essencial para contribuir para o desenvolvimento da criança e estabelecer um canal de diálogo que renda frutos é um desafio para os pequenos e para os adultos. Vale lembrar que até 80% da comunicação de adultos com crianças envolve comandos e negações e é preciso enfrentar este índice com ações que utilizem a criatividade como impulsionadora. Afinal, o adulto precisa aprender a ouvir, a falar o que interessa à criança, o que envolve aprender a conversar e entender as várias formas de comunicação.
A comunicação e a diversidade de formas
A rica comunicação humana tem como código principal a linguagem, complementada por elementos da comunicação não-verbal, como gestos, expressões faciais, movimentos dos olhos e do corpo. Assim, a linguagem é, ao mesmo tempo, uma função e um aprendizado cultural, que ocorre durante toda a infância.
O repertório que propicia as trocas com as pessoas da comunidade envolve desde a comunicação verbal, a oral, que é a conversa do dia a dia, a não-verbal e a escrita, que além de encurtar a distância que separa o emissor do receptor propicia um registro afetivo duradouro entre quem entrega e aquele que recebe a mensagem.
A conexão com o mundo ao redor
Para contribuir com a compreensão da criança sobre o mundo que a cerca e proporcionar a comunicação com as pessoas próximas, a Cataventura promove atividades com o propósito de auxiliar com a construção da identidade individual e também na concepção de situar o pequeno em sua comunidade.
O lugar da escuta que motiva o desenvolvimento
Para que o aprendizado seja um processo mais intuitivo e leve, é importante identificar o que a criança valoriza e pelo que se interessa. Permitir que a criança possa se expressar é uma iniciativa que honra, respeita e coopera para o desenvolvimento dela e também para o relacionamento com as pessoas que estão ao redor.
Neste sentido, a escola se dedica a trabalhar a importância de inserir as crianças no contexto em que vivem para trazer a elas a consciência de que demonstrar que suas atitudes têm impacto para a comunidade em que vivem. O Cuidado com o Ambiente, um dos guias da metodologia Montessori utilizado pela Cataventura, é um dos pontos importantes para o aprendizado.
A inserção na vida em comunidade na prática
Após desenvolver atividades voltadas para a construção da identidade, do reconhecimento de quem sou, a escola Cataventura criou uma atividade para contribuir com a inserção de cada criança na família e na escola: as cartas para a vizinhança.
Ao estimular a consciência do “eu sou” e perceber a presença de cada criança na escola, os alunos passaram a enxergar o ambiente ao seu redor. No entorno, notaram que haviam residências em que moram pessoas. Para colaborar com a vizinhança, as crianças buscaram uma forma de demonstrar afeto com os vizinhos e por isso foi proposta a atividade de confecção e entrega de cartas.
Cartas para a vizinhança na prática
Para estabelecer uma boa relação com a vizinhança, os alunos foram convidados a refletir sobre a boa convivência com os vizinhos. Em uma roda de conversa, cada criança tem a oportunidade de expressar pensamentos e sentimentos em relação ao cuidado com os relacionamentos, seguida pela confecção de cartas para os vizinhos. As cartas são entregues na semana seguinte e os alunos podem ter a iniciativa de voltar a confeccionar mais cartas.
Na semana seguinte, as crianças são organizadas em duplas para um passeio próximo à escola. Cada criança conta com a supervisão da educadora para a entrega da carta e é convidada para colocá-la na caixinha do correio de cada vizinho. Durante a entrega, a educadora vai contar às crianças que, há algum tempo atrás, as pessoas se comunicavam através de cartas e que, ao fazer uma pergunta, deveriam esperar às vezes dias para ter a resposta, o que envolve paciência para aguardar o retorno. Também será situado como prestador deste serviço o carteiro, o que humaniza a atividade. Afinal, poucas pessoas usam cartas para se comunicar atualmente, e por isso o resgate é tão importante.
Memórias afetivas para a inserção no coletivo
Entre os objetivos da atividade das cartas para a vizinhança estão valores como a criação de memórias afetivas, a necessidade de oralizar de maneira segura, respeitando o momento de cada um, assim como instigar a criatividade e a ludicidade e motivar a expressão de forma artística. Ao instigar o desenvolvimento do senso de coletividade, as crianças também são convidadas a refletir sobre a importância de ter um bom convívio com os vizinhos.
Na última edição da atividade, ao conhecer e refletir sobre o uso das cartas e nomear o profissional que as entrega, as crianças foram estimuladas a criar cartas para os vizinhos e se envolver na entrega, como faz a empresa dos Correios. Empolgadas com a confecção e a entrega, cada um entregou uma carta em uma caixa de correio. Durante a experiência, demonstraram motivação com a atividade com a expectativa “os vizinhos vão amar”. Aqueles que tiveram contato com as crianças foram muito amáveis e aprovaram a ação. Um vizinho acompanhou a entrega e sentiu muita emoção ao receber uma das cartas das pequeninas mãos de uma criança empolgada em se integrar à comunidade.
