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Como criar crianças antirracistas?

Como criar crianças antirracistas?

Nos últimos anos, a comunidade e os movimentos de valorização da cultura negra têm ganhado cada vez mais voz e força. Independentemente disso, no entanto, milhares de pessoas ainda sofrem racismo diariamente em função de sua cor de pele em todo o planeta. A retomada do tema racismo no debate público teve como estopim as mortes de George Floyd — vítima de brutalidade policial em Mineápolis, nos Estados Unidos, no dia 25 de maio; e de João Pedro Mattos, menino que morreu durante uma operação policial no Rio de Janeiro.

A partir desses fatos, observamos as redes sociais serem inundadas pelas hashtgs #blacklivesmatter ou, em português, #vidasnegrasimportam que buscam dar visibilidade e expressar apoio à comunidade negra. Aproveitando o cenário, torna-se significativo relembrar e reforçar a importância da existência de movimentos que combatam o racismo bem como a necessidade de saber usar o privilégio branco para colocar-se contra situações de opressão.

Ao pensarmos nesse tema, pode surgir o questionamento: “como família, que atitudes podemos aplicar para criar crianças antirracistas?”. Para ajudar você nessa caminhada de mudança nós, da Cataventura, separamos algumas dicas fundamentais.

Fomente relacionamentos com negros

A maioria dos comportamentos de um indivíduo é aprendido. Isso significa que seu caráter e suas opiniões serão construídas/assimiladas ao longo de suas experiências de vida, levando em consideração sua convivência com o outro. O racismo estrutural está intrínseco nas sociedades ocidentais e para que essa barreira seja rompida, aos poucos, é necessário que pessoas brancas ampliem o espaço de reflexão sobre o tema e que pais negros empoderem seus filhos. Afinal, séculos de preconceito não serão transformados se o diálogo entre as pessoas não se fortalecer.

Nesse sentido, uma ação importante é incentivar que crianças brancas e crianças negras interajam e convivam livremente — quando as oportunidades para tanto se apresentarem — em um cenário que não estabeleça relação de subordinação. Isso porque quando o laço é formado em espaço em que ambas estão na mesma posição hierárquica a ideia de superioridade estrutural arraigada no imaginário social tende a se desfazer. Aqui é importante lembrar que as pessoas são iguais em certo sentido, por compartilharem características, direitos, por viverem na mesma sociedade. Mas, são também diferentes, porque são únicas e apenas podem ser totalmente iguais a si mesmas. O certo é que quando unimos nossas diferenças somos mais fortes e não precisamos ficar restritos a apenas uma caixa, uma parceria, um grupo.

Explique a história da escravidão e o que é privilégio racial

Uma das formas mais eficazes de negar o racismo é negar a história de luta do povo negro. Assim, torna-se necessário falar com as crianças sobre a escravidão e como em qualquer situação, falar de maneira lúdica e franca é a melhor saída. Explique para os pequenos que o racismo existe no Brasil desde os primórdios, com a colonização e o estabelecimento de um regime escravocrata. Ao longo dessa conversa, busque valorizar a resistência dos quilombos, de líderes/heroínas negras e apresente nomes de personagens que lutaram pela abolição da escravatura.

Aproveite esse momento para explicar o que é dívida histórica — quando uma população do presente deve compensar as pelas injustiças que as populações do passado cometeram — e o que é o privilégio racial. Esclareça as razões que fazem com que a população negra possua os piores indicadores sociais, os menores índices de escolarização, salários e etc. Quando verbalizados essas informações fazem com que crianças atentem para desigualdade racial brasileira e compreendam, mais adiante, a necessidade de cotas raciais, por exemplo.

Para que você aprenda mais sobre os temas separamos alguns links úteis: aqui você pode aprender mais sobre racismo estrutural; aqui você tem acesso a um manual didático antirracismo; e nesse documentário produzido pela ONU você pode entender mais sobre a história dos africanos no Brasil. Uma dica de livro para ampliar seus conhecimentos sobre o tema é a obra Crítica Da Razão Negra, de Achille Mbembe.

Consuma entretenimento negro

Explicar para as crianças as diferenças entre os fenótipos é extremamente importante. Isso porque, ao conhecer diferentes tipos de beleza ela compreende que a igualdade está em sermos todos diferentes. Assim, é importante para os pequenos estar em contato com formas de entretenimento que assinalem a diversidade étnica e tragam a história e a representatividade negras. Dessa forma, quando for assistir desenho/filme ou ler um livro infantil, inclua também aqueles com personagens negros como protagonistas.

Existem diversos livros que podem despertar a curiosidade das crianças para esse universo, algumas dicas são: Os nove pentes d’África, de Cidinha da Silva; As tranças de Bintou, de Sylviane A. Diouf; Heroínas Negras Brasileiras, de Jarid Araes; Minha mãe é negra sim!, de Patrícia Maria de Souza Santana; Anansi: o velho sábio, de Kaleki; Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria Machado; O amigo do Rei, de Ruth Rocha; Crianças Como Você, de Mario Vilela; Meu crespo é de rainha, de Bell Hooks, Escola de Chuva, de James Rumford; Os tesouros de Monifa, de Sônia Rosa Rosinha; Aimó, uma viagem pelo mundo dos orixás, de Reginaldo Prandi; e outras sugestões você encontra aqui. Aqui também é importante dar é relevância para autores negros e autoras negras.

Encontrar desenhos que buscam promover a reflexão sobre a diferença entre os povos é mais fácil na primeira infância, prova disso é o projeto Grandes Pequeninos ou a animação Mundo Bita. Outras dicas legais são o filme Kiriku e a Feiticeira e o canal Comptines D’Afrique, no YouTube, que tem centenas de vídeos animados com músicas africanas. Vale lembrar que esses meios têm impacto gigantesco no imaginário infantil, já que podem criar ou reforçar imagens de preferência.

Seja exemplo

Como em todas as esferas da vida de uma criança, o pais e mães sempre são os primeiros e principais exemplos. É possível dizer, inclusive, que até os cinco anos de idade os pequenos copiam praticamente tudo que observam no comportamento dessas figuras. Isso acontece porque elas aprendem emulando condutas que testemunham nos modelos sociais com os quais crescem ou interagem, sejam elas boas ou ruins.

Logo, é fundamental que como adulto responsável você posicione-se também como antirracista. Para isso, é preciso apropriar-se sobre o tema seja lendo, ouvindo podcasts ou escutando pessoas negras. Além disso, é necessário confrontar o racismo estrutural e não compactuar com comportamentos que desmerecem a identidade do negro ou qualquer outra raça, seja por meio de piadas ou comentários. Consumir intelectuais negros, música e outras formas de arte também é importante para que você entenda a visão negra do mundo e torne seu ensinamento às crianças algo genuíno.

Somos ricos em características e isso nos faz ricos em possibilidades, podemos fazer parte de muitos grupos, podemos nos igualar em um sentido e nos diferenciar no outro, ao mesmo tempo. Existem milhares de seres humanos no mundo, sendo que todos eles são únicos e diferentes entre si. Nesse sentido, um exercício interessante para fazer com a criança é o de colocar-se em frente ao espelho e deixá-la apontar as semelhanças/diferenças que existem fisicamente entre si. É apenas por meio dessa riqueza de interações, de força, de respeito às diferenças, às semelhanças e à nossa existência individual que iremos garantir uma igualdade para todos independentemente de cor da pele.

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