“É preciso uma aldeia para criar uma criança”. Você provavelmente já ouviu esse provérbio africano em algum momento da sua vida. Mas, você já parou para pensar no que ele quer dizer sobre a educação dos pequenos? No artigo de hoje queremos propor uma reflexão sobre o papel dos adultos na formação infantil e, principalmente, o que a metodologia montessoriana propõe sobre o assunto. Vamos lá?
O que entendemos por aldeia?
Por aldeia, também podemos entender: rede de apoio. Talvez esse termo seja um pouco mais familiar para você, afinal ele vem sendo cada vez mais abordado pela sociedade, seja em debates sobre o assunto, ou em perfis de influenciadores digitais que falem sobre parentalidade. O fato é que, ainda bem, ele vem sendo cada vez mais levantado para abordar a importância de outras referências, além dos pais, na vida das crianças.
O provérbio que citamos no início do artigo trata justamente sobre isso, sobre a importância de entendermos que, por estar incluída numa sociedade/comunidade, a educação de uma criança jamais dependerá apenas de seus pais e de seu núcleo familiar. Apesar deles serem a base de sua socialização. Assim como a escola também não pode ser o único espaço em que ela encontra apoio além de sua casa.
Porém, como bem sabemos, existem pessoas preparadas para a missão de auxiliar na criação de um ser humano, e outras que ainda não se encontram nesse caminho. Então, seguindo a metodologia montessoriana, como identificar se um adulto está ou não preparado para fazer parte da aldeia de seu filho?
O que a metodologia montessoriana entende por adulto preparado?
Para começarmos essa conversa é essencial que você compreenda que parte da metodologia montessoriana está baseada em pilares, além dos três cuidados que propomos: consigo, com o ambiente e com o outro. Dentre esses pilares está justamente o que entendemos por adultos preparados, ou seja, que sabem a importância de seu papel na educação da criança e interagem com ela compreendendo-a como indivíduo. O que isso significa?
Maria Montessori, criadora da metodologia montessoriana, dizia que o adulto precisa abandonar o orgulho de ser adulto e a ira contra a criança, que não se comporta dentro das expectativas que traçamos para ela. Dessa forma, é fundamental que possamos ver a criança como outro ser humano, um indivíduo completo, com suas vontades, sua forma de fazer as coisas, sua personalidade e por aí vai. A criança precisa ver no adulto um apoio para seu desenvolvimento e não alguém detentor de todo o conhecimento e que irá lhe transmitir tudo que sabe.
Lógico, não estamos querendo dizer que você não pode dar conselhos, explicar os perigos que ela pode encontrar pelo meio do caminho, por exemplo. Muito pelo contrário, inclusive, é fundamental que você o faça. O ponto está na forma com que isso será feito, sempre com carinho, respeito e, principalmente, de igual para igual.
Outro ponto essencial é a compreensão de que muito além das palavras, você estará educando as crianças por meio de seus exemplos. Então, para saber se um adulto está preparado para educar, comece observando suas atitudes, como ele lida com sua própria vida. Isso lhe dará bons indicativos.
E, claro, lembre-se que tudo pode ser aprendido, ninguém nasce sabendo tudo nessa vida e a criação de outro ser-humano está longe de ser um conhecimento intrínseco como pintam por aí. Por isso, procure desenvolver seu entendimento sobre o assunto lendo sobre e cercando-se de pessoas que estejam no mesmo processo. Você até pode não ser um adulto preparado hoje, mas você pode se tornar um.
Metodologia montessoriana: o professor como guia
Seguindo o que mencionamos até aqui, o professor não é um ser-humano mais evoluído por trabalhar com a educação. O que costuma o diferenciar dos demais adultos é justamente a sua busca por entender mais sobre o assunto. Mas, antes de ser um professor, ele é um adulto preparado, lembre-se sempre disso.
Portanto, de acordo com a metodologia montessoriana, o professor, assim como qualquer adulto, é o guia da criança em suas aprendizagens. Dando também o espaço de que precisa para descobrir o mundo por si mesma.
O professor educa pela pessoa que ele é, ele tem apenas um papel institucional que os demais adultos não têm.
A interpretação de cada criança
Vale lembrar também que cada criança, como indivíduo único que é, interpreta os aprendizados à sua maneira. Dessa forma, elas poderão ter contato com o mesmo núcleo familiar e o mesmo professor, mas interpretar os exemplos dados por esses adultos de formas diferentes.
O essencial é que, seja em qual for o meio, ela compreenda que pode e deve se auto educar e auto desenvolver, coletando os exemplos, interpretando-os e agindo à sua própria maneira com base nessas informações. Os adultos que a rodeiam precisam ser vistos por ela como a aldeia para a qual ela sempre poderá voltar, onde ela sempre encontrará segurança e apoio para continuar evoluindo em sua construção enquanto ser humano e indivíduo participante de uma sociedade.