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O que é violência: como equilibrar proteção e liberdade?

O que é violência: como equilibrar proteção e liberdade?

Mandar ou não os filhos para a escola? Este é um dos maiores questionamentos que têm rondado os pais depois dos últimos casos de violência no país. Entre professores agredidos e crianças sendo brutalmente assassinadas por outros jovens, algo que antes nem passava pela cabeça dos pais vem se tornando cada vez mais presente. Mas hoje queremos propor uma reflexão sobre o que é violência.

Diante destes acontecimentos é normal que a preocupação venha à tona. Um ambiente que deveria ser seguro e proporcionar o desenvolvimento de crianças e jovens tem se tornado perigoso e isso assusta. Infelizmente dados coletados pela pesquisadora Michele Prado, do Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo, apontam que somente os anos de 2022 e 2023 já superaram o número de ataques contra escolas ocorridos nos últimos 20 anos. Ou seja, o medo tem razão de ser. Porém, precisamos ficar atentos a outras formas de violência que acontecem cotidianamente e, por vezes, podem inclusive ter um impacto no que vem acontecendo.

Continue lendo para entender melhor do que estamos falando.

Como se sentir seguro?

Cuidar de uma criança e educá-la para que se torne um bom ser-humano é um dos maiores desafios da humanidade, se não o maior. Como proteger dando liberdade para que ela viva sua autonomia? Essa é a pergunta de um milhão. E, sentimos em dizer que não existe uma resposta pronta, mas sim um constante aprendizado, autoconhecimento e evolução. Fazemos o melhor que podemos, com as informações que temos.

Se não bastassem todas essas dificuldades naturais, ainda acrescentamos à equação a violência que vem acontecendo e foge do nosso controle. Que desafio. Porém, por mais difícil que seja, precisamos continuar mantendo a mesma lógica em mente e, sobretudo, evitando a superproteção.

O perigo da superproteção

O desejo de colocar os filhos em uma bolha para poupá-los de todo o mal do mundo é um sentimento constante, acredite, nós também o conhecemos. Mas isso é irrealista, precisamos admitir que nossas crianças são postas nesse mundo para ele, não para ficarem presas dentro de um cerco seguro. Ao tirar da criança a possibilidade de testar seus limites, de errar, de se machucar, de fazer face aos desafios e problemas do mundo, tiramos também sua capacidade de lidar com problemas, de desenvolver habilidades e sua inteligência emocional. Ao superproteger as crianças, criamos futuros adultos inseguros e incapazes de tocar suas vidas de maneira independente.

Na ânsia de superproteger as crianças, acabamos na verdade as desprotegendo, porque: como elas poderão aprender a lidar com as dificuldades da vida por conta própria se alguém sempre está presente para poupá-las das dificuldades? Esse é um questionamento feito pela jornalista Eva Millet e que faz todo o sentido. Inclusive abrindo brecha para uma reflexão sobre frustração, afinal, como aprender que nem tudo na vida é como queremos se não fazemos face à negação?

Claro que, no contexto de violência das escolas o buraco está muito mais embaixo e o debate precisa ser feito. Porém, tirar a criança ou o jovem da vida escolar está longe de ser a solução para o problema. Além das mudanças no sistema, é fundamental que seu filho esteja preparado para fazer frente a situações como essa, caso elas se apresentem.

A reflexão inclusive é necessária para talvez compreendermos o que está levando esses jovens a agirem de forma violenta.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Minnesota, pais superprotetores criam crianças dependentes e frustradas. O método da pesquisa consistia no acompanhamento de um grupo de crianças, começando pela observação de brincadeiras com suas mães aos 2 anos de idade, analisando até que ponto as mães deixavam que seus filhos descobrissem os brinquedos sozinhos e até que ponto tentavam assumir a tarefa.

Aos 5 anos foi possível constatar que os filhos de mães controladoras apresentavam um menor controle sobre suas próprias emoções. Aos 10 anos o quadro ficou ainda mais grave, com impactos no desempenho acadêmico e, inclusive, na habilidade social.

Estamos querendo dizer que os pais são responsáveis pelo que está acontecendo? De forma alguma. Esses jovens precisam ser responsabilizados por seus atos e, voltamos a frisar, o debate precisa ser feito em diversas instâncias. Mas precisamos estar atentos à como educamos nossas crianças porque nossas atitudes podem sim ter impacto em suas vidas.

Limites entre autoritarismo e negligência

Agora você pode estar se perguntando: “mas como proteger meu filho sem ser permissiva demais”? Aqui está mais uma das grandes questões da humanidade. Mas se a resposta fosse fácil, não estaríamos falando da criação de seres humanos.

Não existe um segredo ou resposta perfeita, mas a lógica segue a mesma do que comentamos até aqui e sempre gostamos de frisar na Cataventura: dar as ferramentas e o apoio de que seu filho precisa para se desenvolver em segurança e sabendo quais são seus direitos e deveres enquanto integrante da sociedade em que está inserido.

Neste sentido, você precisa sempre orientá-lo sobre os perigos que existem no mundo e como ele deve agir para se proteger. Porém, sempre com o cuidado de, primeiramente, não transferir à eles seus medos ou traumas pessoais, e encontrando um equilíbrio para que não tenham medo do mundo e de viver livremente. Perigos existem, sim, mas o mundo é lindo demais para que eles se limitem à bolha de proteção familiar.

Eva Millet, jornalista espanhola que publicou recentemente um livro sobre a obsessão por filhos perfeitos, em entrevista à revista Crescer, falou algo que se conecta perfeitamente com o que estamos querendo dizer. Ela comenta que, geralmente, o mantra dos pais é: “amo tanto, tanto, que não quero que sofra e, por isso, faço tudo por ele”. Quando o certo deveria ser oferecer ferramentas para que lidem com o sofrimento na vida, sem necessariamente evitá-lo. Afinal, ele faz parte da vida, não é mesmo?

O que é violência?

Outro ponto fundamental para a nossa reflexão é compreendermos o que é violência.

Infelizmente, costumamos associar a violência ao ato físico, porém ela não acontece somente dessa forma. Gritos, ameaças e castigos são, por exemplo, formas de violência psicológica que podem ter impactos tão graves quanto um tapa.

Nas escolas já faz um certo tempo que o debate sobre os impactos do bullying vem sendo feito, por exemplo. Mas precisamos ir além disso e compreender também a importância de que a violência dentro de casa também não seja mais tolerada.

“Apanhei quando era criança e não morri”. Será mesmo? Você já foi em busca de leituras e pesquisas que falem sobre o impacto que isso pode ter tido na sua saúde mental? Procure se informar e você verá que você pode não ter morrido fisicamente, mas que diversos dos problemas que você enfrenta hoje podem ter origem naquele tapinha que seus pais acharam que ia fazer mais bem do que mal. Eles estavam enganados.

O debate sobre o que fazer em relação aos ataques à escolas já está acontecendo para que soluções possam ser encontradas, mas precisamos falar também sobre a violência de forma geral para, quem sabe, evitar que casos como esse sequer voltem a acontecer. Vale lembrar que, nessas conversas, a grande maioria das soluções encontradas passam pela militarização das escolas e pela lógica do punitivismo. Porém, vocês pais, mães e familiares, precisam participar desse debate junto às instituições de ensino para cobrar mais investimentos e a criação de dispositivos que possam evitar que esses casos ocorram para começo de conversa, e não apenas como remediar a situação uma vez que ela já aconteceu.

Nossas crianças precisam sim saber como agir nesses casos e contar com dispositivos de segurança que as protejam, mas muito além disso precisam saber que estão indo para um lugar seguro e de aprendizado em que casos violentos raramente vão acontecer.

A mensagem final que queremos deixar é que proteção é sinônimo de cuidado e amor, mas sem podar as asas dos seus pequenos. Estabeleça uma relação de confiança com ele, converse e oriente desde cedo sobre a vida, mas dando o espaço que ele precisa para se desenvolver de maneira autônoma, para que além de encontrar formas pacíficas de proteção, também possa contribuir para a construção de uma sociedade da paz.

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